"Um blog que discorre sobre cristianismo, apologética, cinema e outros assuntos desinteressantes..."



sábado, 23 de abril de 2011

Nos cinemas: Pânico 4


(Scream 4, Wes Craven, EUA, 2011)

Genial! Embora Ehren Kruger tenha salvado a série de cair no buraco por causa do Kevin Williamson, ela não poderia ter continuado sem Williamson. E os 11 anos entre um e outro filme só fizeram bem.

A dupla Craven/Williamson resgata todo aquele clima do primeiro filme e coloca a série em outra direção, antenados com as mudanças drásticas ocorridas no gênero terror (obra inclusive da própria série Pânico) e na sociedade como um todo. E quando você pensa que Williamson vai zoar com filmes japoneses de terror, ele zoa com essa mentalidade insana e patológica de fazer remakes e reboots mostrando uma geração ávida por consumir esse tipo de coisa - e quando um dos personagens em determinado momento cita dezenas de filmes que são refilmagens de outros filmes, você finalmente percebe o que está acontecendo no cinema hoje.

Não obstante a isso, o filme se coloca como uma espécie de refilmagem do primeiro, mas evita esse caminho o tempo todo mostrando a genialidade de sua construção, quando inclusive faz o assassino - uma revelação tão chocante quanto a do primeiro filme, coisa de cair o queixo mesmo, mostrando que a maldição das revelações pífias dos outros filmes foi quebrada - subverter as próprias regras de uma refilmagem para demonstrar um comportamento típico dos jovens desta geração Youtube: aparecer e ser notado, mesmo por coisas imbecis, não importa a que custo. Fazendo um belíssimo par com A Rede Social do David Fincher, Pânico 4 mostra que a série é a única a fazer terror ainda hoje com alguma relevância. E isso, principalmente considerando que estamos diante de um quarto filme, no contexto cinematográfico atual, não é pouca coisa. Filme do ano até agora.

5/5

terça-feira, 19 de abril de 2011

Sessão Cinema: Pânico 3


(Scream 3, Wes Craven, EUA, 2000)

Sensacional retomada depois de uma incursão extremamente pretenciosa e vacilante, Pânico 3 manda Kevin Williamson de volta para Woodsboro e abraça Hollywood pelas mãos do roteirista Ehren Kruger, recém saído do sucesso "O Suspeito da Rua Arlington" (que faria depois o ótimo O Chamado e o péssimo O Chamado 2).

Aqui sim estamos diante de uma sequência, ainda mais mordaz e autodepreciativa do que no filme anterior, zoando com absolutamente tudo - destaque para participações especiais de Jay e Silent Bob, Carrie Fisher, Roger Corman, Casey Siesmasko - mostrando um lado nada glamouroso das produções cinematográficas enquanto faz o expectador acompanhar a produção "Stab 3".

Embora longe da novidade do primeiro filme - e nem teria como duplicar isso - esse terceiro ameaça trilhar o lugar comum quando de repente vem a bomba: estamos diante de uma trilogia. E é neste turning point que Pânico 3 é elevado vários níveis acima de Pânico 2, introduzindo elementos comuns ao terceiro episódio de uma trilogia, nunca negando fatos bem estabelecidos nos filmes anteriores e formando um todo coeso e interessante.

Para manter o "padrão" estabelecido no segundo filme, a revelação do assassino mostra-se bem frouxa, embora seus motivos sejam muito mais doentios a princípio do que toda aquela baboseira do assassino no segundo filme. Por outro lado, o filme encerra uma obra em 3 partes de forma bem amarrada, sem pontas soltas. Sidney, aqui, tem desenvolvidas mais facetas da heroína de tragédia grega, descobrindo mais podres sobre a sua família, mostrando que a força da franquia, sem dúvida alguma, é ela, da mesma forma que Jamie Lee Curtis está para Halloween e Sigourney Weaver está para Alien. Assim é inconcebível Pânico sem Neve Campbell e sendo ela a fechar a última cena do filme, Wes Craven nos revela essa importância.

(revisto em DVDrip)

4/5

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sessão Cinema: Pânico 2

(Scream 2, Wes Craven, EUA, 1997)

Vítima de si mesmo e do altíssimo nível estabelecido pelo filme anterior. Pânico 2 começa de forma genial estabelecendo um nível acima de metalinguagem. Se antes o filme relacionava-se com o gênero terror como um todo, aqui ele mesmo produz sua cria, a franquia "Stab", o filme dentro do filme. Contudo, após 10 minutos desse arrombo de genialidade, o roteiro de Williamson parece sofrer do sintoma "pink e cérebro", querendo ser maior do que é, mas sabotando-se a si mesmo uma vez que, impossibilitado - sabe-se lá por qual razão - de desenvolver a idéia do início, passa a simplesmente repetir a matança sugerindo uma "sequência na vida vida real", mas que logo em seguida parece ser descartado, uma vez que as vítimas carregam relação com as vítimas do primeiro filme o que sugere um... REMAKE e não uma sequência.

Pra piorar, o filme investe no ridículo discurso da "violência influenciada pelos filmes" que não convence nem criança de 6 anos e mesmo a referência/homenagem ao primeiro Sexta-Feira 13 quando da revelação do assassino, isso não é devidamente explorado como poderia. Não apenas isso, a verborragia tão peculiar ao primeiro filme aqui enche o saco.

Talvez o maior problema de Panico 2 seje mesmo o Kevin Williamson que, com a bola toda depois do filme anterior, acabou trilhando um caminho auto-indulgente bolando um roteiro maior do que se suporta em si mesmo. Contudo, ele acerta muito ao transformar a Sidney (Neve Campbell) numa heroína saída de tragédia grega (que o terceiro filme iria aproveitar e deixar ainda mais melancólico). Nesse ponto, o fato dela estar ensaiando para interpretar Cassandra e o final do filme se dar no palco com o cenário da peça montado tem tudo a ver e achei isso extremamente bem bolado.

Por outro lado, mesmo aí, achei o plot meio pretencioso, com um quê de "vou dominar o mundo com este roteiro"...

Sobra o Wes Craven que não deixa a peteca cair mostrando que não é um roteiro falho e pretencioso que irá prejudicar seu filme. Momentos assustadores, tensos e violentos (embora menos do que poderiam ser, já que uma das regras de uma sequência é justamente o aumento da violência) permeiam os 120 minutos de filme. É uma pena, portanto, que ele [o filme] seja tão indeciso sobre o que quer ser (uma sequência, um remake, algo maior que o mundo, ou mais um filme de terror) e quase caia vítima do seu psicopata com máscara de fantasma.

3/5

(revisto em DVDrip)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sessão Cinema: Pânico



(Scream, Wes Craven, EUA, 1996)

Aquecendo para o quarto filme...

Há talvez poucos filmes que definem um gênero tão forma tão impressionante como Pânico. Em plenos anos 90, o gênero terror estava afundado em produções vagabundas, filmes que lá atrás tinham tido impacto no público geravam sequências idiotas e todo o universo do gênero estava desacreditado. A bem da verdade o terror sempre foi um gênero meio "maldito" e isso chegou no ápice naqueles anos.

E foi neste contexto que Wes Craven, diretor que fez a fama com alguns dos melhores filmes de terror de sempre (o icônico Freddy Kruger é criação dele no assustador A Hora do Pesadelo de 1984), uniu-se a um jovem roteirista desconhecido chamado Kevin Williamson e criaram este filme.

E o filme é absolutamente genial. Devolveu ao gênero slasher o seu lugar de destaque roubado pelos motivos citados acima. Ficam algumas convenções como o assassino mascarado, a heroína que sobrevive a todas as circunstâncias adversas, o sangue jorrando e as mortes violentas e elaboradas. Vão embora os personagens idiotas tão comuns nesse sub gênero criando-se uma tensão sem precedentes já que parte da premissa de que eles conhecem o gênero terror, sabem como ele funciona, suas qualidades e defeitos. E reagem a contento. Randy, por exemplo, é claramente o alter-ego do roteirista Kevin Williamson, o nerd que manja tudo de cinema (especialmente o de terror), saca de imediato quem poderia estar por trás dos assassinatos e prevê todas as artimanhas que o espectador apenas veria momentos depois. E justamente por isso, o filme trilha caminhos ainda não trilhados no gênero sendo assustador de verdade em um novo sentido.

Mas talvez o verdadeiro toque de gênio aqui é o fator metalinguagem. O filme critica o gênero ao qual pertence e, ao mesmo tempo, se utiliza das mesmas convenções que o tornaram tão indigno de atenção, mas o faz de uma forma que você pensa "mas que coisa sem vergonha... como isso é genial!". Tal postura gera momentos impagáveis de sarcasmo e ironia (para com o gênero e para com o próprio filme) permeados por diálogos sensacionais que, colocados com cuidado, revelam que Pânico não é mais um filme que mostra um psicopata correndo atrás de menininhas. Aliás, não dá pra comparar Pânico com os outros filmes de terror que vieram depois, pelo menos os slashers. Nenhum deles se mostrou tão sincero ao espectador e dizer "venha me ver como eu sou refletido no espelho"... E o filme faz isso sem medo e com sofisticação, usando ótimos (Halloween, The Howling) e péssimos (Prom Night) filmes de terror como referência para si mesmo elogiando os bons filmes do gênero e criticando os péssimos. No processo, ele apela para a memória do espectador: se você sabe as regras, você sobrevive. A pergunta "quem é o assassino do filme 'Sexta-Feira 13'?" feita pelo assassino em determinado momento é a demonstração do tipo de jogo que o filme desenvolve com o espectador.  

E o plot é redondinho, sem rombos de lógica como é tão comum em filmes assim. Só vejo alguns problemas com o excesso de verborragia do Kevin Williamson. Há uma ou outra referência que está ali apenas para dizer "olha, sou mais uma referência" mas que no contexto fica um pouco deslocado. Mas mesmo assim um marco no gênero que, por sua própria peculiaridade, é impossível de ser igualado ou repetido.

Rever este primeiro filme após tantos anos me fez observar a sua importância para o cinema de terror e em como as suas qualidades superlativas estão representadas em elementos bem sutis no decorrer da narrativa. É o cinema alimentando-se do próprio cinema, como dizia o Kléber Mendonça. Uma pena eu não tê-lo visto nos cinemas em 1996. Provavelmente seria uma experiência inesquecível para um adolescente espinhudo que na época já era fascinado pelo gênero.    

5/5

(revisto em DVDrip já que aqui ninguém se prontificou a lançar o filme em DVD)

sábado, 2 de abril de 2011

Sessão Cinema: Por Um Punhado de Dólares

(Fistfull of Dollars/Per un Pugno di Dollari, Sergio Leone, ITA/ESP/ALE, 1964)

"Quando um homem com uma .45 encontra um homem com um rifle, o homem do revólver é um homem morto."

Tem gente que acha que filmes bons só são aqueles que tem uma história bacana, ou muita ação, ou personagens cativantes, ou um final arrebatador, etc. Eu considero todos esses elementos e também considero um outro, nem sempre lembrado: diálogos inspirados, como esse aí destacado acima.

Pistoleiro misterioso, vindo de lugar algum, chega a San Miguel, cidade quase fantasma, deserta, dominada por duas famílias em pé de guerra. Resolve então faturar uns (altos) trocados trabalhando para ambas as famílias, promovendo ainda mais discórdia e contenda. Claro que tudo isso vai descambar num banho de sangue que vai perturbar a já perturbada cidadezinha.

Com esse plot, o diretor italiano Sergio Leone entrega um modesto FILMAÇO que o colocou em pé de igualdade com os grandes diretores de western de sua época como John Ford e Howard Hawks. Enquanto estes trabalhavam com personagens com posição moral definida, porém distorcida - e cuja experiência pela qual iriam passar os corrigiria àquela posição moral inicial - os personagens de Leone são totalmente amorais. Não há um código de ética e de conduta, não há absolutamente nada, são totalmente imprevisíveis. E neste sentido, Leone subverteu todo um gênero na sua essência e ainda por cima o mudou esteticamente, impregnando estilos e "maneirismos" que se tornariam referência daqui por diante, como os longos planos, os enquadramentos no rosto dos atores e, claro, a trilha sonora de Ennio Morricone que todo mundo conhece de um jeito ou de outro, mesmo sem saber de onde é a música.

Clint Eastwood tem a sua estréia como protagonista de longa metragem aqui, como o pistoleiro que vê a possibilidade de ficar rico numa cidade com "dois chefes". Lá pelas tantas ele será a única esperança para resolver a situação, sem necessariamente redimir-se a si mesmo.Gian Maria Volonté, sob pseudônimo, deixa os papéis em filmes políticos italianos um pouco de lado e vive o antagonista/vilão (e autor do diálogo fantástico que abre este post) que suspeita que o protagonista não é tão inofensivo quanto parece.

Violento e por vezes melancólico, o filme ensaia todo um processo apoteótico que seria a marca registrada de Leone em seus filmes seguintes (este aqui é o primeiro de uma trilogia, a "trilogia dos dólares") e pode não chocar tanto por sua amoralidade ou sua violência gráfica nesses tempos pós-modernos em que vivemos (até porque, alguns anos depois veio o Peckimpah que mandou a violência a um nível estratosférico que, no western, não foi igualado), mas o seu charme continua intacto e suas qualidades superlativas ainda influenciam como influenciaram gerações de cineastas que se seguiram como Quentim Tarantino, George Lucas e John Carpenter.


4/5


(revisto em Blu-Ray em fev/2011)