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segunda-feira, 12 de março de 2012

Cinema 2012: A Invenção de Hugo Cabret

(Hugo de Martin Scorsese, EUA/França 2011)

Que Martin Scorsese é um apaixonado e obcecado por cinema e tudo o que é parte dele, isso todo mundo sabe (pelo menos os cinéfilos).

Que Martin Scorsese é um gênio, tendo uma filmografia ímpar com filmes totalmente diferentes e ainda assim com uma "marca registrada" sua, isso todo mundo também sabe (principalmente os cinéfilos).

Que Georges Méliès foi um pioneiro que viu o cinema nos seus primórdios como algo fantástico, além da nossa imaginação, com um leque de infinitas possibilidades, como um moleque que se delicia com um brinquedo novo, que entendeu que o cinema, como forma de arte, é antes de tudo uma máquina de fabricar sonhos e tornar alguns deles realidade através de imagens em movimento, que criou alguns filmes inesquecíveis que servem de referência para QUALQUER UM que queira saber o que é cinema ou que queira mexer com isso, bem.......... poucos sabem (inclusive alguns que se dizem cinéfilos).

Sim, Hugo é uma declaração de amor ao cinema - e esta arte está cheia delas. Mas Hugo é algo mais do que isso.

Ao usar o 3D (o melhor desde Avatar, ouso até dizer que em alguns momentos é melhor do que Avatar) embolado em uma trama infanto juvenil, Scorsese vai além da nostalgia, vai além de declarar seu amor pela arte que lhe rende o seu sustento. Scorsese dialoga comigo e com você, expectadores do século XXI totalmente imersos em filmes extravagantes, quase que totalmente virtuais, muitos deles usando a mesma tecnologia que ele usa magistralmente aqui, suplicando que nós não nos esqueçamos do que o cinema já foi um dia e que se hoje podemos nos deleitar com seres azuis de 3m no planeta Pandora ou robôs que se transformam em carros ou que super heróis podem existir de carne e osso, nós devemos isso ao que o cinema um dia foi, ao que caras como Méliès fizeram.

Hugo resgata o prazer que as gerações anteriores tinham de ir ao cinema (e diz que nós também temos que tê-lo), representado pelos olhares de espanto, admiração e fascínio da garota Isabelle que, levada pelo protagonista que dá nome ao filme, descobre um novo mundo, uma nova forma de sonhar. Isabelle sou eu, é você que é cinéfilo que vê justificado, através das lentes poderosas de Scorsese, o amor que sentimos por essa arte e sentimos saudades de quando olhávamos com o mesmo espanto, admiração e fascínio aqueles filmes que figuram na nossa lista de melhores. E Scorsese também discursa dizendo: "sim, é possível sentir o espanto, admiração e fascínio com a tecnologia de que temos hoje desde que lembremos do que o cinema foi um dia e como chegou até aqui", bem como tal discurso também o é para aqueles que vivem de fazer cinema e muitos entopem nossas salas com porcarias sem tamanho, simplesmente porque não entenderam isto ou pior, não querem entender.

E mesmo que hajam defeitos - particularmente penso que o filme não teria falado tão forte comigo se eu não fosse cinéfilo, o que faz do discurso do Marty uma preleção para "iniciados" - ainda assim o filme ecoa forte não só para nós, mas para todas as gerações que virão depois, nesse sentido, Hugo é um testamento de que o cinema, mesmo no formato digital, em 3D absurdamente lindo pode ser (e deve ser) extremamente puro.


Não levou o Oscar, mas e daí? Prefiro que Hugo se torne um Cidadão Kane do que um Shakeaspeare Apaixonado (ou pior ainda, um Crash - No Limite)


E pensar que tudo isso pode ter vindo da simples idéia "quero fazer um filme em 3D". (by Marcelo Serrano)

5/5


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