por William Lane Craig
As pessoas ocidentais por viverem em contextos de origem
cristã não conseguem perceber a importância da existência de Deus. Então,
devemos mostrar as implicações da existência de Deus para pessoas descrentes.
Na Rússia está havendo um crescimento do cristianismo devido “a prova do
contrário”, pois o povo viu que o marxismo por tantos anos não deu certo.
Filósofos existencialistas como Sartre analisaram que de
fato a inexistência de Deus torna a vida sem sentido. Apesar disso não ser uma
prova em favor da existência de Deus, isso mostra a importância da pergunta.
Ninguém que conhece as implicações do ateísmo pode ignorar a pergunta “que
diferença faz se Deus existe”, pois sem Deus a vida humana é absurda: a vida
não tem sentido, valor ou propósitos superiores e definitivos.
Sentido:
significado (porque algo importa)
Valor: bem ou mal
(certo ou errado)
Propósito: alvo
(razão de algo existir)
Minha defesa é que se Deus não existe, então tais coisas não
existem, além de em nossas próprias cabeças. Não estou dizendo que ateus são
imorais ou não tem alvos, mas que segundo o ateísmo todas as coisas são somente
ilusões subjetivas.
Consideremos a questão da imortalidade. Se Deus não existir
tanto o homem quanto o universo estão fadados à morte, ao “não ser”. Conforme
diz o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre: “Uma vez perdida a eternidade,
não faz muita diferença se isso demorar muitas horas ou muitos anos”. A
consequência disso é que a vida se torna absurda:
1) Sem sentido
final: se toda pessoa deixa de existir quando morre, qual a diferença final faz
nossa vida. Certamente, podemos ter influência relativa, mas nenhuma
importância absoluta. Em última análise, não faz diferença e a humanidade não
tem nenhuma diferença de um bando de mosquitos. Mas mesmo tendo imortalidade,
não é só disso que o homem precisa para ter sentido. O homem precisa de
imortalidade e de Deus e se Deus não existe, o homem não tem nenhum dos dois.
2) Sem valor: sem
imortalidade e se tanto o bom quanto o mal tem o mesmo fim, então não existe
razão para sermos morais. “Não pode haver virtude sem imortalidade”
(Dostoievski). Dizer que a moralidade flui de interesses comuns (uma mão lava
outra) é uma resposta simplista que ignora que os interesses de algumas pessoas
vão diretamente contra o de outras. Sem imortalidade não há nenhum razão
objetiva para moralidade. E se Deus não existe, não há um padrão objetivo de
moralidade, tornando-se só uma construção do gosto pessoal, da evolução ou da
sociedade.
3) Sem propósito:
se tudo está fadado à morte, então não há nenhum propósito na vida ou no
universo. Se Deus não existe, a vaidade descrita em Eclesiastes é verdade:
“Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos
animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e
todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os animais não é
nenhuma, porque todos são vaidade” (Eclesiastes 3:19). Se a vida acaba com a
morte não temos um propósito final com a vida. E, além disso, mesmo com a imortalidade,
mas sem Deus, o homem continuaria a sendo um mero acidente cósmico, um produto
casual de matéria, tempo e chance, sem razão nenhuma de existência. Se Deus não
existe você não passa de um aborto da natureza, lançados sem propósitos para
viverem uma vida sem propósito.
Se Deus não existe, então tudo o que temos é o desespero.
Como Schaeffer diz: “Se Deus está morto, então o homem também o está”. O
filósofo ateu Bertrand Russell, por exemplo, sugeriu que devemos construir
nossas vidas “sob o firme fundamento do desespero incessante”. A vida
consistente com o ateísmo é uma vida infeliz. Toda felicidade de um ateu é uma
inconsistência. Nietzsche, filósofo existencialismo, em uma história previu as
consequências do ateísmo:
Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã
acendeu uma lanterna e correu ao mercado, e pôs-se a gritar incessantemente:
“Procuro Deus! Procuro Deus!”? – E como lá se encontrassem muitos daqueles que
não criam em Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada. Então ele está
perdido? Perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? Disse um outro.
Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou num navio? Emigrou? –
gritavam e riam uns para os outros. O homem louco se lançou para o meio deles e
trespassou-os com seu olhar. “Para onde foi Deus?”, gritou ele, “já lhes direi!
Nós os matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos
isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para
apagar o horizonte? Que fizemos nós ao desatar a terra do seu sol? Para onde se
move ela agora? Para onde nos movemos nós? Para longe de todos os sóis? Não
caímos continuamente? Para trás, para os lados, para a frente, em todas as
direções? Existem ainda ‘em cima’ e ‘embaixo’? Não vagamos como que através de
um nada infinito? Não sentimos na pele o sopro do vácuo? Não se tornou ele mais
frio? Não anoitece eternamente? Não temos que acender lanternas de manhã? Não
ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da
putrefação divina? – também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua
morto! E nós o matamos! Como nos consolar, a nós, assassinos entre os
assassinos? O mais forte e sagrado que o mundo até então possuíra sangrou
inteiro sob os nossos punhais – quem nos limpará esse sangue? Com que água
poderíamos nos lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos de
inventar? A grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos
nós mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele? Nunca houve
ato maior – e quem vier depois de nós pertencerá , por causa desse ato, a uma
história mais elevada que toda a história até então!” Nesse momento silenciou o
homem louco, e novamente olhou para seus ouvintes: também eles ficaram em
silêncio, olhando espantados para ele. “Eu venho cedo demais”, disse então,
“não é ainda meu tempo. Esse acontecimento enorme está a caminho, ainda anda:
não chegou ainda aos ouvidos dos homens. O corisco e o trovão precisam de
tempo, a luz das estrelas precisa de tempo, os atos, mesmo depois de feitos,
precisam de tempo para serem vistos e ouvidos. Esse ato ainda lhes é mais
distante que a mais longínqua constelação – e no entanto eles cometeram! –
Conta-se também no mesmo dia o homem louco irrompeu em várias igrejas , e em
cada uma entoou o seu Réquiem aeternaum deo. Levado para fora e interrogado,
limitava-se a responder: “O que são ainda essas igrejas, se não os mausoléus e
túmulos de Deus?”. (Nietzsche, A Gaia ciência, fragmento 125)
A cosmovisão cristã fornece tanto a existência de Deus, quanto
a imortalidade, necessárias para uma vida significativa e objetivamente feliz.
Então, se só tivéssemos isso, parece muito mais razoável escolher o
cristianismo. Conforme a aposta de Pascal: “quem apostar na existência de Deus,
se ganhar, é evidente que tudo ganha, mas caso perca, nada perde. Trata-se de
um jogo em que se arrisca o finito para ganhar o infinito”.
Você consegue ver agora a importância da pergunta “Que
diferença faz se Deus existe?”? Considere-a atentamente.
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