"Um blog que discorre sobre cristianismo, apologética, cinema e outros assuntos desinteressantes..."



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

[Cinema em Casa]: ALIEN³

(Alien³, David Fincher, 1992)


As pessoas parecem tender a pichar filmes que encerram trilogias. Não sei se é uma expectativa estratosférica criada com base em dois filmes anteriores não menos que excepcionais, mas é meio padrão observar um comportamento de certa ojeriza ou na melhor das hipóteses aquela reação “não é tão bom assim” com relação aos “terceiros filmes”. A história do cinema está repleta de exemplos: O Retorno de Jedi (1983), De Volta Para o Futuro III (1990), O Ultimato Bourne (2007) e, este ano, O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Mas em 1992, foi Alien³ a bola da vez.

Eu não consigo compreender o grau de decepção que as pessoas dizem sentir com este filme, começando com aquele nerd de internet que passa o dia postando em seus blogs até o próprio James Cameron que publicamente declarou odiar este terceiro Alien com todas as suas forças.

Da minha parte, sempre tive este filme em alta conta, embora reconheça as suas limitações frente aos filmes anteriores, mas nada que o faça merecedor da alcunha “filme ruim”, aliás, longe disso. A estréia de David Fincher na direção sempre me pareceu algo parecido com Batman O Retorno – lançado no mesmo ano e igualmente achincalhado: um filme de ação ousado demais para ser considerado um “filme de verão”. E quanto mais velho vou ficando, mais convicto me torno de que mais vale a pretensão em fazer de um filme algo mais do que ele poderia ser do que simplesmente se conformar com a pequenez da proposta intrínseca a ele (i.e., monstro correndo atrás de pessoas, neste caso), ainda que esta pretensão reste falha em vários momentos. E Alien, ao contrário de outros filmes com temática parecida, tem uma estrutura apta a abrigar abordagens diferenciadas e ousadas.

Mas eis que em 2003, a Fox resolve lançar uma “versão estendida” do filme, resgatando nada mais que 35 minutos que ficaram na sala de edição. E é desta versão que falo neste texto, considerando-a a versão definitiva do filme, a versão que deveria ter ido parar nos cinemas há 20 anos.

E que surpresa. Ao contrário de um mero corre-corre nos esgotos, temos personagens reagindo à idéia de ter um alienígena naquele inferno de prisão, como eles encaram isso à luz da crença religiosa que possuem e como Ripley, mais uma vez sozinha, e nunca bem vinda àquele lugar, começa a pensar que talvez a sua paz não resida mais em sobreviver, mas talvez em morrer mesmo. E o clima criado por Fincher não sugere outra idéia. Olhando por esse lado, fica mais fácil compreender porque o filme não foi bem aceito. Extremamente down, depressivo, sujo, infernal, desesperançoso, melancólico, Alien³ não dá uma brecha para o expectador pensar que há saída daquela situação – especialmente na cena onde Ripley é quase estuprada por um grupo de detentos, obrigando-o a contemplar um desfecho trágico numa experiência angustiante de 145 longos minutos, onde o filme flerta muito com o desenvolvimento do primeiro, onde nada de muito relevante acontece na primeira grande parte do filme. Além disso, o filme abraça uma violência gráfica inédita para os padrões da série, com muitos trucidamentos explícitos.

Não é o bastante? Ok... o filme também perverte a moral dos personagens detentos que, na sua miséria, encontraram em Deus a esperança que precisam para continuar sobrevivendo, contudo ainda se dão ao trabalho de revelar a velha natureza – a já citada cena do estupro – e demonstrar bem pouco amor ao próximo – como no discurso de Dillon ao dizer que se dana com a hipótese do alienígena sair do planeta e contaminar a Terra pois eles “tem o mundinho só deles ali” naquela prisão. Pra completar, o filme demonstra nenhum pudor em mostrar Ripley, a heroína, único ponto de apoio do expectador (em todos os sentidos) nesse inferno, se envolvendo com um detento acusado e condenado por causar dezenas de mortes com um único ato. A partir daquele momento, a heroína, até então imaculada, já não é mais tão inocente assim.

Apesar de não parecer introduzir algo novo na série, Alien³ não ousa repetir os dois anteriores, fazendo seu próprio caminho, apoiando-se nas suas próprias características. E, isso, mais do que qualquer outra coisa, deve ser levado em conta, principalmente considerando o final ousado que, por alguns anos, pôs um fim definitivo à série. Alien³, da mesma forma que O Cavaleiro das Trevas Ressurge, esgota o assunto, mandando o expectador de volta à realidade totalmente desamparado, numa pegada sensorial, emocional e visceral que poucos filmes americanos, ainda mais os de verão, nítidos blockbusters, arriscaram fazer.  

Quanto à reclamar do que foi feito com esse ou aquele personagem, como fez James Cameron, penso ser um tremendo “mimimi” infantil, mostrando que alguns gênios deveriam trabalhar mais e falar menos.

5/5

(revisto em Blu-ray) 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

[Cinema 2012]: DREDD

(Dredd 3D, Pete Travis, 2012)


Seguindo a tendência de refilmar tudo o que é possível refilmar, resolveram dar nova chance ao personagem de obscura HQ britânica que poucos conhecem depois do fiasco estrelado por Stallone em 1995. E que surpresa. Quase nada do filme anterior resta aqui, senão o personagem em si. Com censura 18 anos, este filme – que penso ser britânico mesmo, com pouca ou nenhuma intervenção de Hollywood – é surreal, pesado, sujo, sanguinolento... e simples. Lendo alguns reviews na internet, fiquei espantado em ver como as pessoas estão reagindo de forma impressionante à violência gráfica do filme. A coisa é feia MESMO. E em 3D fica ainda mais impactante (ou repulsivo, escolham). Mas ao que consta, os quadrinhos de Dredd são assim, então...

Na história, o Juiz que tem autoridade de julgar, sentenciar e executar a sentença no ato, vai com uma jovem que está em “estágio probatório” atender uma ocorrência de um triplo assassinato em um cortiço vertical de mais de 200 favelas, dominado por uma ex-prostituta que comanda toda a produção de uma substância conhecida como “slo-mo” que provoca no usuário a sensação de que o tempo corre a 1% da velocidade normal. Lá chegando, são presos dentro do enorme cortiço e encurralados pela gangue da dita que manda serem executados por quem os verem, sob pena de qualquer favelado que, podendo obedecê-la, não o fizer, seja também morto com requintes de crueldade. A partir daí o filme bebe na fonte de obras primas como Assalto à 13ª DP do mestre John Carpenter e, em certo ponto, o espanhol [REC], para criar um clima sufocante por extasiantes 90 minutos que parecem uma eternidade, dada a tensão criada.

E dá-lhe violência estilizada e crua num espetáculo sanguinolento cuja falta de misericórdia para com os bandidos faz Tropa de Elite parecer quase que uma brincadeira de criança.

Dredd não faz concessões, coloca todo mundo sob risco de morrer dentro daquele inferno – inclusive os protagonistas – tornando a experiência de vê-lo angustiante e por isso mesmo tão bom.

Em uma época onde os filmes de ação – especialmente as adaptações de HQ – são pautados pela derivação e pela hesitação em chocar visualmente a plateia, Dredd ousa como poucos e isso deve ser reconhecido. Que venha a continuação...

4/5