As
pessoas parecem tender a pichar filmes que encerram trilogias. Não sei se é uma
expectativa estratosférica criada com base em dois filmes anteriores não menos
que excepcionais, mas é meio padrão observar um comportamento de certa ojeriza
ou na melhor das hipóteses aquela reação “não é tão bom assim” com relação aos
“terceiros filmes”. A história do cinema está repleta de exemplos: O Retorno de
Jedi (1983), De Volta Para o Futuro III (1990), O Ultimato Bourne (2007) e,
este ano, O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Mas em 1992, foi Alien³ a bola da
vez.
Eu
não consigo compreender o grau de decepção que as pessoas dizem sentir com este
filme, começando com aquele nerd de internet que passa o dia postando em seus
blogs até o próprio James Cameron que publicamente declarou odiar este terceiro
Alien com todas as suas forças.
Da
minha parte, sempre tive este filme em alta conta, embora reconheça as suas
limitações frente aos filmes anteriores, mas nada que o faça merecedor da
alcunha “filme ruim”, aliás, longe disso. A estréia de David Fincher na direção
sempre me pareceu algo parecido com Batman O Retorno – lançado no mesmo ano e
igualmente achincalhado: um filme de ação ousado demais para ser considerado um
“filme de verão”. E quanto mais velho vou ficando, mais convicto me torno de
que mais vale a pretensão em fazer de um filme algo mais do que ele poderia ser
do que simplesmente se conformar com a pequenez da proposta intrínseca a ele
(i.e., monstro correndo atrás de pessoas, neste caso), ainda que esta pretensão
reste falha em vários momentos. E Alien, ao contrário de outros filmes com
temática parecida, tem uma estrutura apta a abrigar abordagens diferenciadas e
ousadas.
Mas
eis que em 2003, a Fox resolve lançar uma “versão estendida” do filme,
resgatando nada mais que 35 minutos que ficaram na sala de edição. E é desta
versão que falo neste texto, considerando-a a versão definitiva do filme, a
versão que deveria ter ido parar nos cinemas há 20 anos.
E
que surpresa. Ao contrário de um mero corre-corre nos esgotos, temos
personagens reagindo à idéia de ter um alienígena naquele inferno de prisão,
como eles encaram isso à luz da crença religiosa que possuem e como Ripley,
mais uma vez sozinha, e nunca bem vinda àquele lugar, começa a pensar que
talvez a sua paz não resida mais em sobreviver, mas talvez em morrer mesmo. E o
clima criado por Fincher não sugere outra idéia. Olhando por esse lado, fica
mais fácil compreender porque o filme não foi bem aceito. Extremamente down,
depressivo, sujo, infernal, desesperançoso, melancólico, Alien³ não dá uma
brecha para o expectador pensar que há saída daquela situação – especialmente na
cena onde Ripley é quase estuprada por um grupo de detentos, obrigando-o a
contemplar um desfecho trágico numa experiência angustiante de 145 longos minutos,
onde o filme flerta muito com o desenvolvimento do primeiro, onde nada de muito
relevante acontece na primeira grande parte do filme. Além disso, o filme
abraça uma violência gráfica inédita para os padrões da série, com muitos
trucidamentos explícitos.
Não
é o bastante? Ok... o filme também perverte a moral dos personagens detentos que, na sua miséria, encontraram em Deus a
esperança que precisam para continuar sobrevivendo, contudo ainda se dão ao
trabalho de revelar a velha natureza – a já citada cena do estupro – e demonstrar
bem pouco amor ao próximo – como no discurso de Dillon ao dizer que se dana com
a hipótese do alienígena sair do planeta e contaminar a Terra pois eles “tem o
mundinho só deles ali” naquela prisão. Pra completar, o filme demonstra nenhum
pudor em mostrar Ripley, a heroína, único ponto de apoio do expectador (em
todos os sentidos) nesse inferno, se envolvendo com um detento acusado e
condenado por causar dezenas de mortes com um único ato. A partir daquele momento, a heroína, até então imaculada, já não é mais tão inocente assim.
Apesar
de não parecer introduzir algo novo na série, Alien³ não ousa repetir os dois
anteriores, fazendo seu próprio caminho, apoiando-se nas suas próprias
características. E, isso, mais do que qualquer outra coisa, deve ser levado em
conta, principalmente considerando o final ousado que, por alguns anos, pôs um
fim definitivo à série. Alien³, da mesma forma que O Cavaleiro das Trevas Ressurge, esgota o assunto, mandando o expectador de volta à realidade totalmente
desamparado, numa pegada sensorial, emocional e visceral que poucos filmes
americanos, ainda mais os de verão, nítidos blockbusters, arriscaram fazer.
Quanto
à reclamar do que foi feito com esse ou aquele personagem, como fez James
Cameron, penso ser um tremendo “mimimi” infantil, mostrando que alguns gênios deveriam trabalhar mais e falar menos.
5/5
(revisto
em Blu-ray)
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