Ainda
estou tentando ver a coca toda vista pela crítica com o novo 007. Todo aquele
lance de testar a lealdade do agente para com a sua chefe na verdade não passa
de bobagem, já que a lealdade do herói nunca é de fato abalada. O filme ameaça
lidar com algo gigante, de proporções globais – até porque o vilão é ninguém
menos que Javier Bardem – mas na verdade tem uma trama bem simples de vingança.
A motivação do vilão não é suficiente para o terror que este toca; dizia-se que
coisas não muito boas do passado de M voltariam para assombrá-la e durante um
tempo o filme dá esta impressão, mas não é nada disso...
Por
outro lado, a melancolia permeia boa parte da projeção. Você sente que as
coisas vão caminhar para uma tragédia – como de fato caminham mesmo, e mais uma
vez o expectador vê algo na série que não é comum: Bond tem relativo sucesso em
sua missão, mas com um preço muito alto. Tão alto que creio que ele fracassou,
pois não conseguiu salvar quem prometeu proteger, da mesma forma que em Cassino
Royale e, em menor grau, no estupendo 007 A Serviço Secreto de Sua Majestade
(1969). E quando tudo caminha para aquele final trágico e arrepiante, quem
conhece o personagem ou pelo menos o acompanhou nos últimos 3 filmes, sabe que
é difícil segurar as lágrimas.
Sim,
Skyfall é extremamente triste e fala de morte, derrota e fracasso durante todos
os seus 145 minutos (enfatizados desde os créditos de abertura que já dão o tom
do que se seguirá). Lembrei um pouco de Alien³ enquanto o assistia, vendo a
relação de Bond com a M (mais uma vez interpretada com a nobreza e a grandeza
da pequena grande Dama Judi Dench) se desenvolver num misto de relação
chefe-subordinado com mãe-filho órfão que muito me agrada. E isso só é
percebido se o expectador tem o background dos outros dois filmes estrelados
pelo Daniel Craig.
Ainda
é de se notar que, desta vez, a bondgirl não é uma beldade atlética que faz a plateia
masculina suspirar, mas é a própria M que, perseguida implacavelmente pelo
vilão, é protegida por 007 que passa por cima de tudo para salvá-la. E a
excelente música tema interpretada pela Adele reforça isso, sendo uma espécie
de declaração dela para ele, sugerindo que uma tragédia se avizinha. Neste
sentido, Skyfall é mais pessoal do que Cassino Royale (e neste particular,
penso que mais bem sucedido) e outros filmes em que o agente lidou com perdas
significativas. Aqui, a perda é um pouco mais profunda, mas que ainda assim faz parte da jornada de qualquer
herói. Bond termina Skyfall como um agente pleno, alguém que na prática teve
que lidar com o sucesso e com a perda em iguais proporções.
Repensando
o filme agora, enquanto escrevo sobre ele, percebo que o mesmo vem crescendo um
bocado no meu conceito. Não duvido que na revisada ele ganhe mais pontos. Por
mim, Sam Mendes – que voltou à boa e velha forma depois de alguns filmes
babacas, pode continuar a dirigir filmes do agente e Adele pode ficar pra
sempre com as músicas-tema.
**visto em glorioso IMAX**
4/5
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