Quando
eu tinha mais ou menos 11 anos, estava andando em um shopping em São Paulo. Se
me lembro acho que estava com meu irmão e um primo. E usava um boné do Boston
Celtics, naquela fase da vida em que um pré-adolescente fica louco para usar
coisas de times que diz torcer (mas não torce) e esquece pouco tempo depois.
Pois bem, lembro que senti um moleque – creio de uns 16 anos – passar a mão
pelo meu boné, arranca-lo e leva-lo. E este que vos escreve abriu o berreiro no
meio do shopping para não ser acudido por ninguém enquanto o meliante saía
fora... Voltamos para o carro e meu pai perguntou o que havia acontecido.
Explicado e saindo do shopping nos demos de cara com o meliante. Meu pai desceu
do carro, abordou o infeliz e antes que este se desse conta de com quem estava
falando, meu pai tomou-lhe o meu boné e, da mesma forma furtiva, deixou o
moleque falando sozinho.
Este
evento, que eu já tinha esquecido há muito tempo, voltou como se tivesse acabado
de ocorrer conforme eu ia assistindo este Busca Implacável. Liam Neeson faz o
pai dedicado e zeloso, com fama de paranóico, que destrói meia Paris em busca
de sua filha seqüestrada por canalhas que raptam estrangeiras para tráfico e
prostituição de mulheres, determinado a fazer mingau dos mesmos. Durante os 93
minutos de projeção eu vi meu pai ali, que passaria por cima de tudo e de todos
para proteger/defender sua cria.
Talvez
seja por isso que o filme acabou emplacando com um sucesso cult, sendo uma
versão atualizada – e melhor, do clássico Desejo Para Matar, onde Charles Bronson
interpretava um Jason Voorhees com arma de fogo. Bryan Mills não é apenas um
super agente aposentado, no melhor estilo James Bond. Ele é, acima de tudo,
pai. E exercendo essa que talvez seja a melhor profissão de todas, o cara acaba
se tornando um verdadeiro super-homem e precisa mesmo para que o expectador
possa torcer com todas as forças por ele. E isso acontece de forma bem
orgânica, sem forçação de barra. E essa pegada acabou pegando pesado... Quando
se coloca o pai no meio, qualquer cineasta sabe que está mexendo com algo
extremamente visceral na vida de qualquer um, inclusive eu.
Bola
dentro de Luc Besson (autor do roteiro) e de Pierre Morel que se revelou uma
grata surpresa aqui, mas logo depois mostrou com o quase horroroso Dupla Implacável que, no seu caso, um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
(visto
em mkv)
4/5
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