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segunda-feira, 11 de junho de 2012

[Cinema em Casa] Batman

(idem, Tim Burton, 1989)

Às vésperas da estréia do novo filme do Homem-Morcego, achei que seria interessante rever o trabalho que o Tim Burton realizou com o personagem, na época elogiado, hoje, salvo raríssimas exceções, odiado ou recebido com estranheza.

Lembro-me de quando vi o filme pela primeira vez no cinema em outubro de 1989. Naquela época, nunca me passou pela cabeça o que o diretor maluco estava fazendo com o herói. E com o passar dos anos, a idade chegando e inúmeras revisões do filme - incluindo esta última - me deparei com a riqueza de subtextos, simbologias e outras coisas sutis que Burton coloca em seu espetáculo estilizado.

Burton encarou o universo do Batman com um olhar singular - e que penso respeita mais a essência dos quadrinhos do que os filmes do Nolan, por exemplo, ao colocar as motivações do herói em xeque, não de forma exposta na narrativa, mas através de elementos da mesma, ações e falas, questionando moralmente o seu protagonista. E isso fica bem claro pra mim quando da revelação que dá início ao terceiro ato do filme - uma mudança em relação aos quadrinhos que deve ter feito muito fãzóide arrancar os cabelos - transformando a jornada do herói em algo pessoal, tornando-o um vigilante mesmo, algo que os quadrinhos anelaram perscrutar (pelo menos os que li, especialmente em O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller).

Nolan, ao contrário de Burton, nunca colocou o seu protagonista em posição duvidosa perante outros personagens, algo que sempre senti falta nos filmes novos e, considerando a abordagem "realista" destes, onde tudo é explicado, penso que questionar a moralidade do herói serviria ainda mais para engrossar o caldo. Mas a partir do momento que você vê Vicki Vale dizendo ao Batman 'admita... você também não é exatamente normal', logo depois dele falar que o Coringa é um psicótico, Burton deixa claro que aquele universo que ele (re)criou não aceita heróis e sim aberrações. E pra mim não há nada mais iconoclasta do que rotular o herói de aberração.

Visto hoje, não fica difícil entender porque o filme, atualmente com 23 anos, é tão execrado. Burton promove um espetáculo do grotesco, uma inversão de valores em um universo onde todos os "is" tem pingos, talvez como um retrato do nosso próprio universo. E pra piorar, o protagonista parece saber disso, que ele é também parte deste processo e ele faz o que faz não porque é diferente, mas porque tem que fazê-lo.

Por fim, Burton retrata um mundo que, ao que parece, pelos olhos dele, não merece redenção. Não há nada mais desestimulante que isso para alguém que senta para ver um filme de herói esperando ver reafirmadas suas convicções sobre justiça e a esperança de um mundo melhor. E, pessoalmente, não há nada mais genial que isso, pois com tal abordagem, o diretor quebra paradigmas e expectativas.

E pensar que este primeiro Batman seria apenas o pavimento para o que Burton faria a seguir com o personagem... É uma pena que o autor foi vencido pelo marketing e pela ânsia da Warner em criar algo mais palatável para todas as idades, dando um "dane-se" para a arte.

5/5

(revisto em DVD)

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