"Um blog que discorre sobre cristianismo, apologética, cinema e outros assuntos desinteressantes..."



terça-feira, 8 de maio de 2012

Cinema 2012: Os Vingadores

(The Avengers, Joss Whedon, EUA, 2012)

"'Os Vingadores' é o melhor filme que eu já vi na vida..."


"É a melhor adaptação de HQ já feita..."


"Entra fácil na lista de 10 melhores filmes já feitos..."

Estas e tantas outras afirmações eufóricas podem ser encontradas na net nesses últimos dias em referência ao primeiro grande blockbuster do ano de 2012.

Lembro quando Whedon fora anunciado como diretor do filme que uniria quatro dos maiores heróis da MARVEL e pensei "esse cara não tem o cacife pra segurar um projeto desse". Significa que Whedon é ruim? Não. Oriundo de séries de TV justamente em uma época onde seriados estão cada vez mais parecidos (e algumas vezes melhores até) com os filmes de cinema, o diretor poderia trazer uma abordagem diferenciada da linguagem, contudo nunca me pareceu o cara realmente certo a comandar um troço desse tamanho. Assim, pensei comigo mesmo: ou ele afunda este filme - o que me parecia mais provável - ou ele surpreenderia a todos como Bryan Singer fez com X-Men em 2000, Tim Burton fez com Batman em 1989 e, mais distante ainda, Richard Donner fez com Superman em 1978. Não aconteceu nem uma coisa nem outra. E isso não é, necessariamente, um elogio, embora possa sê-lo, em partes.

O filme é entretenimento de primeira, se sobressai diante de tanta porcaria que os estúdios despejam hoje nas salas de cinema - o que não é difícil de se conseguir, diga-se - tem personagens carismáticos e ação de primeira e é superior aos filmes-solo de seus heróis. Qual o problema então?

A MARVEL, a editora que agora virou estúdio de cinema, esperta como é, teceu uma colcha de forma precisa e cirúrgica envolvendo seus personagens e de forma meticulosa, entregou 4 filmes ora bons, ora bem mornos, nunca memoráveis, criando um palco para a sua apresentação principal, este Os Vingadores. Nenhum desses 4 filmes se sustenta bem por si só. Todos eles apontam para Os Vingadores. O leitor consegue entender onde estou querendo chegar, até aqui?

Pois bem, prossigamos.... Livre da obrigação de apresentar cada personagem (cada um teve o seu próprio filme de 2 horas para isso), sua personalidade e conflitos pessoais, Whedon pôde partir para o que realmente interessa: como fazer para reunir figuras tão heterogêneas, arrogantes, cheias de si e de seus feitos, para atuarem em conjunto e protegerem a Terra de uma ameaça alienígena? Como seria o embate de figuras tão egocêntricas? As respostas se encontram em duas ou três cenas, as melhores do filme inteiro, onde nossos heróis faltam só jantarem-se uns aos outros.

"Pô, mas isso é genial não é?" Sim e não. Sim, porque faz bem para um blockbuster deste que se apóia em valores morais bem definidos, com conceitos bem claros de certo e errado, ter, em seus protagonistas, os "mocinhos", situações que colocam o próprio heroísmo deles em cheque. Não, porque infelizmente, isso é o máximo de ousadia narrativa que você verá em Os Vingadores.

"Mas 'ousadia narrativa' (ou o que quer que isto seja) é mesmo necessário?" Penso que em filmes desse tipo sim. É o que separa filmes genéricos de filmes que fazem alguma diferença, apresentam algo de novo. Isto não significa que filmes genéricos sejam ruins e filmes "ousados" sejam necessariamente bons, mas que o segundo tipo provavelmente sobreviverá mais do que o primeiro tipo.

Lembro-me que falei dessa mentalidade fast-food quando comentei sobre Thor e Capitão América no ano passado e isso me veio à mente durante toda a projeção de Os Vingadores. Whedon apenas raspa nas diferenças entre os heróis nunca levando isso às últimas consequências, embora ele tenha dispendido 2/3 do filme justamente expondo isso. E quando ele tem a grande chance de juntar todos os heróis num único propósito, ele o faz por meio de um personagem secundário que só quem DECOROU os 4 filmes solo já mencionados vai lembrar quem é e a sua importância - que não é muita, passando totalmente despercebido pelo público iniciante ou que viu os outros filmes só uma vez - ou seja, 90% da platéia que assistiu e assistirá Os Vingadores.

Esse tipo de postura tem nome que tenho utilizado: "play it safe", ou seja, jogando de forma segura. Whedon pisa com extrema cautela neste universo maluco dos heróis da MARVEL entregando algo que nunca desafia os sentidos da platéia, nunca ousa de forma que o expectador possa dizer "ok, vou sair dessa sessão passado com o que vi acontecer neste filme". Só para terem uma idéia do que quero dizer, lembrem da sequência final de Superman - O Filme ou ainda da sequência final de X-Men 2 ou do embate entre o Batman e a Mulher-Gato no final de Batman - O Retorno. Estes são exemplos de filmes que não enveredaram pelo modo "play it safe". É necessário sacrificar um personagem importante para obter um impacto dramático e desafiar os sentidos da platéia? Então vamos fazer. É isso que diferencia o Joss Whedon de caras como Donner, Singer, Burton e, mais recentemente, Sam Raimi (Homem-Aranha) e Christopher Nolan (Batman Begins e O Cavaleiro das Trevas).

Porque esses heróis sobreviveram até hoje e continuam encantando as gerações? Porque os seus gibis não adotam o "play it safe", arriscando tudo, surtando geral.

No final, Whedon mostrou ser mesmo o cara ideal para comandar o projeto uma vez que, como já dito, ele lança mão de (poucos) momentos onde essa segurança narrativa é jogada no ralo. E neste processo ele cria uma expectativa como quem diz "olha, logo mais vou mostrar algo realmente surpreendente a vocês", mas que nunca rola.

Dizem que é porque ele foi controlado a mão de ferro pela MARVEL. Pô, mas isto é óbvio. Filmes desse porte são concebidos por interesses de executivos mais interessados em arrecadar dinheiro e vender action figures e games do que criar algo que possa ser saboreado pela platéia mas que fique na memória dela. Mas este é também o caso de Christopher Nolan que entregará o próximo Batman daqui a 2 meses e o que você na tela é a visão dele personalíssima e sem concessões, para o bem e para o mal. Este também foi o caso de Bryan Singer que com pouco dinheiro fez X-Men parecer um filme que custou quase o mesmo tanto de Titanic. Também foi o caso de Tim Burton; também foi o caso de Richard Donner. Enfim, o argumento não é desculpa.

Podem dizer também que um filme como Os Vingadores tem mesmo que ser despretensioso e não deve aspirar ser algo "ousado". Eu pergunto: por que não? Porque sempre insistimos nivelar por baixo filmes com potencial de deixarem sua marca registrada na história do cinema? É tão difícil perceber que há filmes cuja premissa os tornam capazes de serem algo mais na história da sétima arte e que há filmes pela mesma razão o melhor mesmo é eles serem "mais um na multidão"? As pessoas que defendem esse ponto de vista precisam compreender que há uma diferença entre exigir ousadia de um filme onde um psicopata mascarado mata adolescentes no acampamento e exigir ousadia de um filme com heróis com personalidades marcantes, que trabalham juntos a contra gosto, e que dessa união cada um veja a sua importância e que dessa união seja demonstrada o verdadeiro heroísmo por baixo da soberba e da arrogância - como bem mostra a sequência final com o Homem de Ferro que, por causa do maldito "play it safe" começa de forma absurdamente linda e termina de forma bem blé.

Dito isto, Os Vingadores é um filmaço porque entrega um pouco mais de inteligência do que a média dos filmes desse tipo e um pouco decepcionante por não se arriscar muito quando poderia tê-lo feito. Falta a Os Vingadores um pouco da personalidade de Tony Stark, mas o que fica mesmo ao final da projeção é uma subserviência a um formato de cinema que não tem questionamento, apenas obediência, postura típica do Capitão América. Quem sabe numa sequência o filme ouse entrar naquela sala como o Steve Rogers fez quando confrontado, e descubra qual é realmente o seu propósito e digo desde já: não é só entreter a platéia. Isso seria nos subestimar ao extremo.

4/5



Um comentário:

  1. Discordo em 2 pontos: Que seja melhor do que os outros filmes da Marvel. Homem de Ferro 1 funciona bem melhor que os Vingadores.

    4/5 não condiz com a crítica. Tá mais pra 3/5. abs

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