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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sessão Cinema: Pânico



(Scream, Wes Craven, EUA, 1996)

Aquecendo para o quarto filme...

Há talvez poucos filmes que definem um gênero tão forma tão impressionante como Pânico. Em plenos anos 90, o gênero terror estava afundado em produções vagabundas, filmes que lá atrás tinham tido impacto no público geravam sequências idiotas e todo o universo do gênero estava desacreditado. A bem da verdade o terror sempre foi um gênero meio "maldito" e isso chegou no ápice naqueles anos.

E foi neste contexto que Wes Craven, diretor que fez a fama com alguns dos melhores filmes de terror de sempre (o icônico Freddy Kruger é criação dele no assustador A Hora do Pesadelo de 1984), uniu-se a um jovem roteirista desconhecido chamado Kevin Williamson e criaram este filme.

E o filme é absolutamente genial. Devolveu ao gênero slasher o seu lugar de destaque roubado pelos motivos citados acima. Ficam algumas convenções como o assassino mascarado, a heroína que sobrevive a todas as circunstâncias adversas, o sangue jorrando e as mortes violentas e elaboradas. Vão embora os personagens idiotas tão comuns nesse sub gênero criando-se uma tensão sem precedentes já que parte da premissa de que eles conhecem o gênero terror, sabem como ele funciona, suas qualidades e defeitos. E reagem a contento. Randy, por exemplo, é claramente o alter-ego do roteirista Kevin Williamson, o nerd que manja tudo de cinema (especialmente o de terror), saca de imediato quem poderia estar por trás dos assassinatos e prevê todas as artimanhas que o espectador apenas veria momentos depois. E justamente por isso, o filme trilha caminhos ainda não trilhados no gênero sendo assustador de verdade em um novo sentido.

Mas talvez o verdadeiro toque de gênio aqui é o fator metalinguagem. O filme critica o gênero ao qual pertence e, ao mesmo tempo, se utiliza das mesmas convenções que o tornaram tão indigno de atenção, mas o faz de uma forma que você pensa "mas que coisa sem vergonha... como isso é genial!". Tal postura gera momentos impagáveis de sarcasmo e ironia (para com o gênero e para com o próprio filme) permeados por diálogos sensacionais que, colocados com cuidado, revelam que Pânico não é mais um filme que mostra um psicopata correndo atrás de menininhas. Aliás, não dá pra comparar Pânico com os outros filmes de terror que vieram depois, pelo menos os slashers. Nenhum deles se mostrou tão sincero ao espectador e dizer "venha me ver como eu sou refletido no espelho"... E o filme faz isso sem medo e com sofisticação, usando ótimos (Halloween, The Howling) e péssimos (Prom Night) filmes de terror como referência para si mesmo elogiando os bons filmes do gênero e criticando os péssimos. No processo, ele apela para a memória do espectador: se você sabe as regras, você sobrevive. A pergunta "quem é o assassino do filme 'Sexta-Feira 13'?" feita pelo assassino em determinado momento é a demonstração do tipo de jogo que o filme desenvolve com o espectador.  

E o plot é redondinho, sem rombos de lógica como é tão comum em filmes assim. Só vejo alguns problemas com o excesso de verborragia do Kevin Williamson. Há uma ou outra referência que está ali apenas para dizer "olha, sou mais uma referência" mas que no contexto fica um pouco deslocado. Mas mesmo assim um marco no gênero que, por sua própria peculiaridade, é impossível de ser igualado ou repetido.

Rever este primeiro filme após tantos anos me fez observar a sua importância para o cinema de terror e em como as suas qualidades superlativas estão representadas em elementos bem sutis no decorrer da narrativa. É o cinema alimentando-se do próprio cinema, como dizia o Kléber Mendonça. Uma pena eu não tê-lo visto nos cinemas em 1996. Provavelmente seria uma experiência inesquecível para um adolescente espinhudo que na época já era fascinado pelo gênero.    

5/5

(revisto em DVDrip já que aqui ninguém se prontificou a lançar o filme em DVD)

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