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sábado, 2 de abril de 2011

Sessão Cinema: Por Um Punhado de Dólares

(Fistfull of Dollars/Per un Pugno di Dollari, Sergio Leone, ITA/ESP/ALE, 1964)

"Quando um homem com uma .45 encontra um homem com um rifle, o homem do revólver é um homem morto."

Tem gente que acha que filmes bons só são aqueles que tem uma história bacana, ou muita ação, ou personagens cativantes, ou um final arrebatador, etc. Eu considero todos esses elementos e também considero um outro, nem sempre lembrado: diálogos inspirados, como esse aí destacado acima.

Pistoleiro misterioso, vindo de lugar algum, chega a San Miguel, cidade quase fantasma, deserta, dominada por duas famílias em pé de guerra. Resolve então faturar uns (altos) trocados trabalhando para ambas as famílias, promovendo ainda mais discórdia e contenda. Claro que tudo isso vai descambar num banho de sangue que vai perturbar a já perturbada cidadezinha.

Com esse plot, o diretor italiano Sergio Leone entrega um modesto FILMAÇO que o colocou em pé de igualdade com os grandes diretores de western de sua época como John Ford e Howard Hawks. Enquanto estes trabalhavam com personagens com posição moral definida, porém distorcida - e cuja experiência pela qual iriam passar os corrigiria àquela posição moral inicial - os personagens de Leone são totalmente amorais. Não há um código de ética e de conduta, não há absolutamente nada, são totalmente imprevisíveis. E neste sentido, Leone subverteu todo um gênero na sua essência e ainda por cima o mudou esteticamente, impregnando estilos e "maneirismos" que se tornariam referência daqui por diante, como os longos planos, os enquadramentos no rosto dos atores e, claro, a trilha sonora de Ennio Morricone que todo mundo conhece de um jeito ou de outro, mesmo sem saber de onde é a música.

Clint Eastwood tem a sua estréia como protagonista de longa metragem aqui, como o pistoleiro que vê a possibilidade de ficar rico numa cidade com "dois chefes". Lá pelas tantas ele será a única esperança para resolver a situação, sem necessariamente redimir-se a si mesmo.Gian Maria Volonté, sob pseudônimo, deixa os papéis em filmes políticos italianos um pouco de lado e vive o antagonista/vilão (e autor do diálogo fantástico que abre este post) que suspeita que o protagonista não é tão inofensivo quanto parece.

Violento e por vezes melancólico, o filme ensaia todo um processo apoteótico que seria a marca registrada de Leone em seus filmes seguintes (este aqui é o primeiro de uma trilogia, a "trilogia dos dólares") e pode não chocar tanto por sua amoralidade ou sua violência gráfica nesses tempos pós-modernos em que vivemos (até porque, alguns anos depois veio o Peckimpah que mandou a violência a um nível estratosférico que, no western, não foi igualado), mas o seu charme continua intacto e suas qualidades superlativas ainda influenciam como influenciaram gerações de cineastas que se seguiram como Quentim Tarantino, George Lucas e John Carpenter.


4/5


(revisto em Blu-Ray em fev/2011)

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