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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

[Cinema 2012] O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE

Extra Large Movie Poster Image for The Dark Knight Rises(The Dark Knight Rises, Christopher Nolan, EUA, 2012)

Quem diria que o talento de Nolan seria questionado até por aqueles que outrora o colocavam num pedestal. Mas aconteceu... De âncora para um realismo há muito buscado por uma grande parcela de expectadores, Nolan passou aqui para o mané dos absurdos, tecendo um roteiro descosturado, entupindo de personagens, abusando de licença poética, enfim... Nolan deve estar tendo os seus dias de Tim Burton...

Isto, para muita gente... Já pra mim...

Sou fã do Nolan, mas não fãzóide. O cara tem talento, mas tem limitações e elas tem se tornado visíveis a cada novo projeto. Por isso não me espanto com as falhas deste derradeiro Batman, uma vez que filme algum é perfeito - ainda mais os feitos hoje em dia - e também porque estou com um pouco de saco cheio de ficar buscando perfeições técnicas em um filme. Em uma época onde se investe horrores em um virtuosismo estético e em tramas excessivamente bem amarradas, onde você entende tudinho, mas faltando um elemento caríssimo, a ALMA, este O Cavaleiro das Trevas Ressurge me pareceu mais um grito "PAREI COM ESTA PORCARIA E VOU ME PREOCUPAR EM TENTAR FALAR ALGUMA COISA COM ESTE MATERIAL!"

E neste sentido, considerando o filme como o terceiro ato de uma grande peça, onde é necessário um desfecho, posso dizer com certa segurança que estou bem tendencioso a achar este filme novo, com todos os seus problemas, superior aos outros dois.

Pra começar, Nolan chuta de vez aquela visão estúpida que ele mesmo imprimiu em Batman Begins e que quase voltou em O Cavaleiro das Trevas. Nada de achar que aquele universo merece ser salvo, aqui ele mergulha-o em trevas profundas em que você chega à conclusão de que aquela cidade não merece salvação, mas ela merece o melhor que pode ter: um cara traumatizado, freak, cheio de conflitos, de culpa, chamado Bruce Wayne que aqui, está pagando o preço de ser o herói que a cidade precisa que ele seja, o de um ser maldito - uma das razões pelas quais acho tão equivocado o discurso aplaudido do amado Homem-Aranha 2. E neste contexto, surge Bane, o Hulk deste universo, cuja inteligência e carisma são proporcionais ao seu tamanho. Aí Batman precisa sair da aposentadoria em uma sequência emocionante, que se inspira certamente na graphic novel de Frank Millar, especialmente quando um policial veterano, ao ver o homem morcego correndo com sua moto atrás dos bandidos, diz a um policial rookie: "prepare-se garoto que você vai ver um espetáculo agora..." - explode a trilha de Hans Zimmer nos auto falantes da sala de cinema. O policial tem razão.

E pra terminar, Nolan encerra sua trilogia com os 5 minutos finais mais emocionantes do ano, em uma decisão artística ousada para o gênero de filme de super-herói de HQ, independentemente de qual for o seu entendimento para o que aconteceu naquele final. Quando o Comissário Gondon citou "Um Conto de Duas Cidades" de Charles Dickens (que também é citado no final parecido de Jornada nas Estrelas II - A Ira de Khan) foi que eu consegui compreender de forma mais profunda o que o protagonista buscava (e o que ele efetivamente conseguiu) e neste sentido, a cena onde a estátua do Batman é descoberta aos aplausos é emblemática e diz um sem número de coisas, mas no fim mesmo, resta Nolan que não apenas retratou um personagem de HQ, ele criou um personagem autêntico, que se vestia de morcego não só para ser o herói que alguém ali precisava ser, mas também como uma forma de lidar com seus próprios traumas, buscando uma redenção, o que faz dele um herói perfeito que entendeu que o verdadeiro heroísmo compele-o a abrir mão da própria vida em favor de algo maior ou de outros e que a sua redenção pode estar aí.

A constatação (de implicações bíblicas, vale frisar) bateu forte aqui e, no fim mesmo, o resultado não poderia ser outro: inspirador, não só para um certo policial que fecha o filme, indicando tanto um possível renascimento quanto um desfecho definitivo a ponto de não precisarmos mais de um filme do Batman (pois penso que Nolan esgotou aqui o assunto), mas para este que vos escreve que ao subir os créditos finais ao som da impactante música do Zimmer olhou para a sua esposa que devolveu a ele o seu olhar com as mesmas impressões aqui descritas. Two thumbs up!, Nolan...

O quê? O final ridículo do Bane? O subaproveitamento da Mulher-Gato (que entendo tem sua participação justificada na última cena do Alfred e que vale mais do que tudo o que ela fez antes)? Como Bruce Wayne chegou a Gothan sitiada sem um tostão no bolso? Aquela filosofia Yoda style (que é igual à filosofia de botequim do primeiro filme que muita gente babou) da prisão do Bane? Depois de tudo isso que eu falei, você me vem com essas? Meu, vá ver Os Vingadores, vai...

5/5  

Um comentário:

  1. Belo review Dook, não só porque você falou bem de algo que eu gostei, mas porque você, diferente dos outros reviews, fez o mesmo que aponta no filme. Falou de alma, de emoção. Afinal cinema é uma obra artística que passa emoções. Parabéns.

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