Em
1996, li na revista SET que a esperada reunião dos gigantes Al Pacino e Robert
DeNiro foi nada menos que um fiasco em um filme lento, arrastado, longo, com
cenas de ação mal feitas e com a tal alardeada reunião ocorrendo em poucas
cenas.
Por
essa e por outras razões, demorei quase 20 anos para ver este filme. Que
estupidez.
De
tantas coisas que podem ser faladas sobre esta obra prima, nada é mais
expressivo que a cena final do filme, em um dos finais mais belos da história
do cinema (sim, não estou brincando!), que resume o espetáculo que é – dentre os
que já vi – o melhor filme disparado de Michael Mann.
Fogo
Contra Fogo é daquelas coisas lindas que se bobear acontecem uma vez só na
carreira de um cineasta, mas já vale por todas. É o tipo de filme que
carimbaria o passaporte de seu diretor para o céu – se a ida para lá pudesse
ser conquistada dessa forma.
Confesso
que durante os primeiros 20 minutos achei que a coisa não ia empolgar, que a
crítica da SET estava certa, a narrativa me pareceu arrastada, mas quando Mann
começa a expor a intimidade de seus personagens, suas vidas complicadas, seus
relacionamentos arrebentados e investir um tempo precioso nisto, constatei que
estava diante de algo extremamente real,
ainda que caricato – sim, porque filme algum consegue reproduzir plenamente toda a
complexidade de um ser humano e de suas relações - coisa que Christopher Nolan,
por exemplo, provavelmente nunca vai conseguir atingir em sua carreira. E é
justamente na cena em que Pacino abraça a mãe de uma prostituta que acabara de
ser assassinada que eu pensei “fui fisgado”. Ainda que tal cena seja impossível
de se conceber em nossa realidade urbana, considerando como nossos policiais se
comportam, mesmo assim me pareceu uma das coisas mais humanas já retratadas em
um filme. Depois disso, vem aquela maravilhosa discussão na mesa do restaurante
– já fechado – onde a esposa do policial cobra-lhe uma postura diferenciada e
ele explica, dando razão à esposa, o que o motiva e porque ele faz o que tem
que fazer. Se nesta cena o expectador já não estiver completamente envolvido e
submerso naquele universo mostrado pela lente absurdamente fantástica do Mann,
então o filme fracassou. Felizmente, não é que ocorreu aqui. E a partir daí o
filme só cresceu, cresceu, cresceu – com um belo recheio em forma de uma das
sequências de assalto/perseguição mais estonteantes que já vi (palmas inclusive
para o design de som) – até não poder mais e continuou crescendo até a tal cena
final citada lá em cima, ao som ensurdecedor de aviões – quem assistir com home
theater vai precisar checar sua audição depois – e da maravilhosa música do
Moby.
Quanto
à estética do filme, é possível que Los Angeles nunca tenha sido tão belamente
filmada e retratada quanto neste filme aqui. Talvez em Drive, o que me faz
pensar que o Wedding Refn certamente se inspirou em Fogo Contra Fogo.
Fazia
um bom tempo em que achei que a expressão “a film by Fulano...” não era tão
justificada e não encerrava tão bem um filme como este aqui. Lembrei de “A Vila”
(2004) pois a sensação foi parecida. Deveria ter visto no cinema e só Deus sabe
porque raios eu perdi essa oportunidade. Um erro que demorou 18 anos pra ser
corrigido. Espero não errar tão feio – e por tanto tempo - da próxima vez.
(visto em Blu-ray)
5/5
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