Tem
filmes que você assiste que se mostram experiências difíceis, seja porque o
tema abordado é complicado e o diretor não faz concessões, mexendo com o juízo
do expectador (o exemplo mais célebre que me vem à mente é o sublime Laranja
Mecânica de Kubrick), seja porque o filme é ruim mesmo e assistí-lo vira uma
tortura sem fim.
Amour
está totalmente dentro da primeira hipótese, mas faz Laranja Mecânica parecer
um passeio no parque.
O
fato é que Haneke, na sua brutalidade habitual, não poupa nem o casal
protagonista, nem o expectador, especialmente se este for casado – como é o meu
caso.
O
filme joga na sua cara a noção superficial de amor que a maioria de nós tem,
embora mostre demonstrações genuínas de amor entre o casal de velhinhos que se
vê à volta com um derrame cerebral e o resultante definhamento de um deles
diante da doença.
Mas
mesmo isso é melzinho na chupeta perto do que Haneke faz o seu expectador
testemunhar: o processo lento e doloroso de um luto em vida, a morte lenta de
um ente querido diante da impotência do cônjuge que sobrevive e tenta lidar com
isso, sem o melodrama tipíco de filmes que abordam temas assim. Aliás, o
melodrama passa longe daqui.
Não
quero entrar em mais detalhes para evitar SPOILERS, mas Haneke vai fazer você
perder o sono com uma cena lá para o meio do terceiro ato, onde ele mostra a
verdadeira natureza do ser humano (que não é essa que muitos adoram pintar em
filmes desse tipo) e nos coloca um dilema: será que estamos certos do que
faríamos (ou não faríamos) diante de uma situação dessa?
Nesta
temporada de filmes oscarizáveis, apesar deste filme não ser o melhor até
agora, sem dúvida foi o que mais mexeu comigo. A catarse é inevitável a tal
ponto de eu não conseguir repercutir o filme com a minha esposa até agora (já
faz dias que o vimos). Poucos filmes conseguem fazer isso...
4/5
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